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quarta-feira, 13 de junho de 2007

"Carta ao meu País"


"Tantas vezes tive raiva de não saber sair de ti. As palavras que me deste têm um travo de irremediável lonjura, uma velhice de sol e lágrimas sem silêncio nem coragem onde o coração sossegue. Ensinaste-me a ser ousada em segredo e sonsa nos salões de benzedura. Falas como quem reza, baixinho, e insultas com palavras de pedir perdão, de rastos, de rajada, ta-ra-ra-ta, inchando o peito de eucalipto como se nele rugissem as selvas de África que, na verdade, nunca tiveste. Mas que te importa a verdade? Nasceste homem, talhado para o abstracto da glória, para o heroísmo, vertiginosa ficção. Nasceste homem, cresceste a negar a tua própria mãe, apaixonaste-te pela inteligência cosmopolita da distância, mas casaste sempre com as mulheres de dentro, as que admiram e choram e sabem fingir que querem morrer por causa de ti.

(...)

Amas-me aos soluços, pelas esquinas, no ventoso veludo das noites de Lisboa, e depois deixas-me a ver navios, com uma gargalhada nem sequer cruel, nem sequer derradeira, no guincho dos eléctricos da manhã."

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"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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