"Tantas vezes tive raiva de não saber sair de ti. As palavras que me deste têm um travo de irremediável lonjura, uma velhice de sol e lágrimas sem silêncio nem coragem onde o coração sossegue. Ensinaste-me a ser ousada em segredo e sonsa nos salões de benzedura. Falas como quem reza, baixinho, e insultas com palavras de pedir perdão, de rastos, de rajada, ta-ra-ra-ta, inchando o peito de eucalipto como se nele rugissem as selvas de África que, na verdade, nunca tiveste. Mas que te importa a verdade? Nasceste homem, talhado para o abstracto da glória, para o heroísmo, vertiginosa ficção. Nasceste homem, cresceste a negar a tua própria mãe, apaixonaste-te pela inteligência cosmopolita da distância, mas casaste sempre com as mulheres de dentro, as que admiram e choram e sabem fingir que querem morrer por causa de ti.
(...)
Amas-me aos soluços, pelas esquinas, no ventoso veludo das noites de Lisboa, e depois deixas-me a ver navios, com uma gargalhada nem sequer cruel, nem sequer derradeira, no guincho dos eléctricos da manhã."
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