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quinta-feira, 23 de novembro de 2006

DO GRANDE E DO PEQUENO AMOR


Será este mais um post sobre coisa alguma. É um dos meus livos (daqueles bastante lights) preferidos. Um romance fotogáfico de Inês Pedrosa e Jorge Colombo. Foi durante algum tempo um bom exemplo para algo que se passou comigo. E hoje apeteceu me escrever um bocadinho deste livro. Secalhar porque me traz boas recordações, secalhar porque este clima de nostalgia cá em casa me lembra tanta coisa. Talvez...



«Sai. Sai, não ouviste? Nunca mais te quero ver. », disse ela. «Nem eu a ti.Acabou, adeus. Basta.», disse ele.

(...)

"Livre de novo, ele planava sobre a cidade, redescobri-a como terreno ed possibilidades e surpresas, filme de acção sem roteiro pré-definido. Lembrava-se de como ela lhe massajava os ombros, das gargalhadas partilhadas, das noites em claro.

(...)

Ela, entretanto, escondia-se do mundo. Com as cortinas a barricá-la do dia, nem precisava de chorar para sofrer. Antigamente, bastava-lhe pensar. Mas isso fora outrora, noutra vida que agora precisava de reconstruir rapidamente. Acreditava em muitas coisas: presságios, provérbios, profecias, coisas antigas de que ele se ria.

(...)

Ela nunca se deixara embalar pela anarquia das utopias. Gostava de realidades organizadas, datas fixas, referências concretas. Parecia-lhe que o mundo estaria muito melhor se as pessoas consertassem o que encontravam, em vez de deitarem tudo fora para reconstruir de novo. Nas bibliotecas, refugiava-se dos bombardeamentos da existência. O estudo das guerras enchia-a de paz.

(...)

Por mais tratados de paz que se propusessem a assinar, nunca conseguiam ficar juntos mais do que alguns meses. Começavam a estar demasiado descrentes para lutar. Desta vez é mesmo o adeus, dizia ele, dizia ela, ambos sabendo que eram ainda terrivelmente jovens para um adeus definitivo. Mas não tão jovens que não se sentissem cansados desse adeus que não conseguiam cumprir. Nenhum deles aprendera a resistir ao chamamento um do outro. Era omo se os seus nomes respondessem, à revelia dos outros, de cada vez que eram pronunciados pelo outro.

(...)

«Porque é que temos de resolver isto? Talvez este amor, esta coisa nossa, seja uma guerra como essas que tu estudas, infinitas, com o sangue e a paz entremeados. Um livro sem fim, com páginas rasgadas, amachucadas, sublinhadas. E páginas em branco.»

«De qualquer maneira, não fomos feitos para aceitar um amor normal. Até a expressão me arrepia. O amor nunca é normal.»

(...)

Se fossem mais velhos, talvez a ideia do sofrimento inevitável não os assustasse tanto; talvez pudessem encarar com alegria a guerra que lhes estava destinada. Talvez faltasse pouco para aprenderem que a necessidade de uma guerra leva décadas a revelar-se.

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"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

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